Deve ter sido há um par de anos que descobri o 'blackwork'. Procurava outra coisa qualquer, numa das minhas viagens internáuticas pelos crafts, e deparei-me, não sei bem como, com uma página totalmente dedicada ao bordado espanhol, que me deixou totalmente fascinada pela riqueza dos motivos. Foi todo um novo mundo que se abriu perante mim!
Reza a lenda que este bordado, de origem árabe, terá sido levado para Inglaterra pela princesa espanhola Catarina de Aragão, em 1501. Casada com Henrique VIII, durante mais de 20 anos influenciou a corte inglesa com a sua paixão pelo bordado, tendo o seu ponto ficado conhecido como "bordado espanhol". Depois do seu divórcio, a influência espanhola na corte foi erradicada, e o termo 'blackwork' substituiu o 'spanishwork', como era anteriormente conhecido em Inglaterra. Tornou-se muito popular durante o reinado de Elizabeth I, sendo ostensivamente usado nos
trajes da nobreza, mas caiu em desuso no século XVII.
O bordado espanhol é bordado sobre tela Aida (a mesma utilizada no ponto cruz) com linhas de côr contrastante. Inicialmente era feito apenas com linha preta (daí o termo 'blackwork') mas existem variações com bordado a vermelho, verde, azul e dourado. Na internet aconselho vivamente as páginas
Practical Blackwork e
Wyrdbyrd's Nest, onde podem encontrar vários esquemas, dos mais fáceis para iniciantes, aos padrões mais intrincados para quem gosta de desafios!
Pessoalmente tive algumas dificuldades em encontrar páginas com esquemas gratuítos para esta técnica. Por isso, e como tinha um vale de oferta de 25€ na
Amazon Books (digam lá se não tenho uns amigos espectaculares!), decidi investir nalguns livros de blackwork. São os 3 muito bons, com muitos esquemas diferentes, e cada um com os seus pontos mais fortes, acabando por se complementarem na perfeição:
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New Anchor Book of Blackwork Embroidery Stitches - um pequeno livro de 64 páginas, ideal para principiantes, com óptimas explicações passo a passo;
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Made in France: Blackwork - livro de 164 páginas com 34 óptimas ideias para projectos utilizando este bordado: mantas, quadros, e muitas outras ideias de decoração; não é o mais indicado para iniciantes pois é parco em explicações;
- finalmente, o meu preferido,
Blackwork Made Easy - com 96 páginas, possui fotos a cores, uma enorme diversidade de esquemas prontos a agradar a todos os gostos e boas explicações de como iniciar e finalizar os projectos; a autora, Lesley Wilkins, possui outras publicações do género, mas pelo que pude ler nas críticas, os projectos não variam muito de livro para livro;
Todos os livros estão em inglês, mas facilmente se percebem os desenhos dos esquemas mesmo sem saber a língua. Os materiais são facilmente acessíveis - qualquer bordadeira de ponto cruz certamente os terá! Tela Aida, bastidor, agulha sem ponta e linha. A linha utilizada depende do tamanho da malha da tela, desde a simples linha de coser à máquina até ao algodão de crochet. Assim que recebi os livros não resisti, claro, em experimentar esta nova técnica.
Esta é a minha pequena obra de arte! A tela é de malha bastante pequena, por isso estou a bordar com 1 fio do algodão para bordar ponto cruz. Nada mal para principiante, não acham? ;) Já tenho a cabeça a fervilhar de ideias e vou até fazer uma prenda de Natal usando este bordado (não este especificamente da foto).
Os pontos utilizados também são bastante conhecidos. O bordado espanhol usa basicamente o
ponto de alinhavo duplo (não tenho a certeza sobre esta tradução, 'double running stitch' em inglês...), o
ponto atrás e, eventualmente, o ponto cruz. O ponto de alinhavo duplo é utilizado principalmente nos motivos geométricos mais complexos e cria um ponto mais homogéneo. O ponto atrás é utilizado principalmente nos rebordos, providenciando maior definição. O ponto cruz é eventualmente utilizado no preenchimento dos motivos. Eu confesso que no trabalho da imagem acima usei o ponto atrás em tudo, mas no próximo vou fazer como deve ser e experimentar o ponto duplo. De qualquer modo, o bordado espanhol é interessante por isso mesmo, pela liberdade que nos dá em seguir os esquemas. Segundo os livros, deve primeiro bordar-se os rebordos a ponto atrás e só depois o preenchimento com o ponto duplo. No entanto, quando se tem um desenho como aquele que bordei acima - e tendo em conta que só decidi adicionar a moldura depois do desenho central feito - é difícil decidir o que é o rebordo e o que é preenchimento. Portanto, o meu conselho é: façam-no com prazer e divirtam-se!